Espiritualidade e Consciência
Numa época em que cada vez mais pessoas vão “despertando” para essa outra realidade da nossa condição humana – a busca pela transcendência – gostaria de discorrer sobre este tema e a minha experiência pessoal.
O facto de ter nascido e crescido no seio de uma família católica praticante, poderia explicar a atração que senti desde pequeno pelo sagrado, o sublime, que via como algo a atingir. No entanto e apesar de na juventude me ter afastado da igreja católica por não me rever nas suas práticas, a necessidade que sentia de saber mais sobre os mistérios da espiritualidade, levou-me a procurar livros diversos sobre estes temas, desde as biografias de grandes personagens da História, à história das religiões, do pensamento filosófico e também da psicologia. Procurava compreender o que sentia e intuía sobre mim, sobre os outros e sobre a realidade do mundo em que vivia.
Fiz também diversas formações que cobriam temas tão diversos como a Projeciologia (técnica de projeções/viagens astrais conscientes), Conscienciologia, Controlo Energético, Leitura de Aura, Reiki, etc. Experimentei regressões, hipnose, consultas de Tarot e de outros tipos de sessões envolvendo a mediunidade. Com cada aprendizagem, sentia que tinha encontrado mais uma valiosa peça do puzzle sobre mim, mas faltava-me uma vertente essencial, que só adquiri quando fiz a pós-graduação em Bioneuroemoção®.
Refiro-me à integração destas três dimensões que caracterizam o ser humano – o corpo, a mente e o espírito. É a relação entre estas três partes que me permite, afinal, encontrar o caminho para aquilo que sem saber, tenho procurado toda a vida – o meu verdadeiro “Eu”. Com esta formação que se estendeu ao longo de um ano, tive semanalmente a oportunidade de me analisar e ser analisado durante as consultas práticas que acompanhavam os diversos módulos, e ganhar uma nova perspetiva sobre mim e a vida que tenho vindo a viver.
Entendo agora, que o caminho que escolhi até aqui chegar, o da espiritualidade e misticismo, era o que me fazia mais sentido, em função das minhas experiências e ambiente em que cresci, mas que muitas vezes esse caminho serviu para me alienar da realidade que me rodeava e, essencialmente, de mim. Percebo hoje, que quando a vida se tornava difícil de suportar, fugia para essa dimensão mais etérica e mágica, onde tudo era possível, mesmo que momentaneamente. No entanto, quando regressava à nossa realidade da terceira dimensão, estava tudo na mesma, ou pior ainda, porque não tinha percebido que o mundo é uma projeção do que se passa no nosso interior.
Sei agora, que se a realidade que me rodeia não me agrada, devo olhar para dentro de mim e procurar que desequilíbrio pessoal estou a projetar para o meu exterior e que está a ser espelhado pelos que me rodeiam. Que conflitos emocionais e crenças é que estão na base dos meus comportamentos, das minhas situações de dificuldade e das doenças. Passamos o dia a viver em modo automático, sem estarmos conscientes dos nossos comportamentos, dos julgamentos, críticas e avaliações que estamos permanentemente a fazer sobre tudo e todos que nos rodeiam. O nosso inconsciente, ou seja, aquela parte de nós de que não temos consciência, processa entre 95% e 99% de todos os estímulos sensoriais percebidos, ou seja, entre 95% a 99% da nossa vida resulta dos programas do nosso inconsciente, o que significa que temos apenas verdadeira consciência de 1% a 5% da nossa vida. Isto é realmente alarmante!
Esta falta de consciência que todos nós temos de nós próprios, é que justifica todos os exageros e desequilíbrios que caracterizam a realidade em que vivemos. Deste modo, a única alternativa é aumentarmos o nosso nível de consciência e isso só se consegue estando atentos a nós próprios e alterando os nossos comportamentos. Temos que passar de uma vida baseada na (re)ação inconsciente, para a ação consciente!
Quando no título deste artigo escrevi, Espiritualidade e Consciência, referia-me a esta dimensão dupla do nosso processo de evolução. O desenvolvimento da espiritualidade por si só, não é suficiente para o nosso processo de evolução, já que somos também seres físicos, que têm associada a esta dimensão biológica um conjunto de características essenciais, como por exemplo, as emoções e os comportamentos. Assim e para mim, estou convencido que se quero evoluir e viver uma vida plena de satisfação e em coerência comigo, tenho que conhecer e integrar de um modo equilibrado esta dupla dimensão, que acredito ser o que nos define como seres humanos – a dimensão física e a espiritual.
“Não somos seres humanos a viver uma experiência espiritual, somos seres espirituais a viver uma experiência humana”. Pierre Teilhard de Chardin
FRANCISCO PIRES
Especialista em BioNeuroEmoção®
(+351) 964 644 718